As nuances entre o prazer e o dever de escrever

08/02/2024

Nunca imaginei trabalhar com a escrita. Para mim, escrever era uma diversão; um passatempo. Quanto a tê-la como profissão, estava fora de questão. Pensava que a escrita profissional fosse apenas para aqueles que tinham uma boa formação acadêmica (os "letrados").

Achava também que fosse um universo para escritores que percorriam a trajetória da Academia Brasileira de Letras - mesmo que nunca se tornassem um dos imortais. Sim, eu sabia da existência de redatores.

Mas esses, como aqueles, deviam ser jornalistas respeitados com inúmeras graduações - pensava. Talvez, esse pensamento vinha de uma realidade que vivenciei: o privilégio de viver da escrita era para poucos.

Felizmente, a internet ajudou a virar esse jogo. Democratizou a profissão da escrita. Os que tinham o prazer de escrever não precisavam mais de editoras e mídias fechadas para ter visibilidade. Bastava produzir um texto e postá-lo.

E foi nesse cenário que iniciei minha carreira como redator.

Prazer e dever – opostos que se relacionam

Eu precisava trabalhar. Então, imaginei que poderia trabalhar em algo que conseguisse realizar pela internet. Não; nem passou pela minha cabeça ser redator – pelo menos, não nesse momento. Afinal, a escrita era um hobby. Além disso, minha mente ainda pensava no velho formato da área da escrita.

Certo dia, sentei em frente ao computador e digitei: "trabalhar pela internet". Logo, surgiu um site que dizia: "escreva para web". "Hum, interessante" – pensei. Decidi investigar mais. O anúncio era de uma plataforma que oferecia serviço freelancer de produção de texto para quem estivesse interessado em ingressar nesse formato de trabalho.

Até treinamento era dado. "Perfeito! Vamos ver como funciona". Fiquei empolgado! Me inscrevi no curso, fiz um teste, passei e até hoje vivo da escrita.

O desafio de manter o prazer na escrita

A ideia de trabalhar escrevendo era muito empolgante para o "eu" redator iniciante. Porém, esse sentimento começou a ser abafado. Após dias, meses e anos escrevendo para blogs, redes sociais, e-mails, e-books e diversos formatos de conteúdo, senti que meu gosto pela escrita estava decaindo rapidamente.

Virou trabalho. Não era mais algo que escolhia quando, como e onde fazer. Eu precisava sentar, escrever e pagar minhas contas. Por isso, tinha que atender todas as demandas vindas das agências e clientes que eu prestava serviço.

Posso dizer que a "lua de mel" com a profissão perdurou (embora não com a mesma empolgação inicial) por uns três anos. O motivo era o aprendizado. Nesse período, aprendi a lidar com clientes difíceis, revisores metódicos e escrever nos mais diversos formatos de conteúdo.

Mesmo nessa "curva ascendente" de conhecimentos, não conseguia mais escrever por prazer. Sentar para escrever me fazia sentir no trabalho. E após produzir palavras e frases o dia inteiro, essa era a última sensação que gostaria de sentir.

O que fiz para não desistir de ver a escrita como um hobby

Reinventar. Isso mesmo; foi preciso me reinventar para não desistir da escrita como hobby. Cheguei à conclusão que só conseguiria manter o prazer na escrita se a fizesse fora do formato publicitário e do marketing de conteúdo.

Então, iniciei uma trajetória inversa. O objetivo era resgatar aquele Mauro que amava bolar histórias e repassá-las para o papel. Aquele que simplesmente soltava a imaginação. Sem os ditames das técnicas de SEO e as regras dos briefings.

Deu certo. Esse artigo é uma prova disso. Um belo dia pensei no título, depois nos tópicos e, por fim, me joguei na escrita – sem freios. O resultado? Sinto um prazer imenso em cada palavra. É como uma conversa entre mim e o leitor. Sensação de liberdade.

Não pense que desisti de trabalhar como redator – longe disso. Apenas entendi que para sobreviver e manter a alegria na minha profissão, preciso transmitir a minha essência de alguma forma. Se o briefing não permite, me faço permitir em artigos autorais.

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